Sistemas de Informação e Engenharia de Software o Elo Gerencial


Introdução
O presente artigo é uma tomada de posição. Seu estilo narrativo
é basicamente uma reunião de diversas idéias desenvolvidas no
decorrer de nossa experiência profissional, tanto na indústria como
na universidade. O nosso público alvo é principalmente o de profissionais
desempenhando níveis de gerência ou com interesse em aspectos
gerenciais.
Quantas vezes já nos perguntamos: qual a diferença entre analistas de sistemas e engenheiros de software? Qual a diferença entre estes
profissionais? Esta dúvida surge, não sem razão. A confusão
é fruto das diferentes fontes de informação as quais estamos
expostos. Cursos patrocinados por fabricantes e livros de processamento de
dados, tratam o trabalho de construção de artefatos de software
como desenvolvimento de sistemas. O profissional responsável por esta
tarefa é conhecido como analista de sistemas. Nestes livros e
cursos não se menciona a Engenharia de Software.
A Engenharia de Software se desenvolveu principalmente no âmbito de
sistemas básicos, como sistemas operacionais, linguagens, como
também no âmbito de sistemas dedicados. Estes sistemas dedicados para
controle de artefatos tinham no universo dos consumidores,
principalmente, o setor militar.
A confusão por muito tempo passou despercebida, ou, pelo menos, não
apresentava maiores problemas. Recentemente a comunidade de
informática passou a ser exposta à idéia de Engenharia de Software.
Livros, seminários e palestras sobre o tema passaram a estar à
disposição da comunidade. Essa onda de informação, passa por
metodologias de desenvolvimento de software até o termo da moda, isto
é, CASE (Computer Aided Software Engineering).
Nosso artigo proporá uma distinção entre as áreas de Sistemas
de Informação e de Engenharia de Software centrando-se no exame do
papel do gerente em cada área, e em particular na tarefa de conciliar
estas duas áreas. Esta distinção é de suma importância,
porque ambos estão bastante relacionados com aspectos de gerência de
tecnologia de informação, cuja importância torna-se, cada
vez, mais um fator
indispensável para a própria sobrevivência
da organização, dentro do quadro
geral de acirrada competição entre organizações.
A Informática e a Organização
Na maioria das organizações que se utilizam de sistemas computacionais para
apoio às suas atividades, os conceitos de Sistemas de
Informação e de Engenharia de Software se misturam no que comumente
se chama de Desenvolvimento de Sistemas. Esta mistura de áreas afins,
mas diferenciadas, é, no nosso entender, um dos principais problemas
encontrados pelos gerentes de informática. Muitas vezes problemas
tais como:
• criação de rotinas administrativas,
• prioridades de desenvolvimento,
• procedimentos operacionais,
• motivação,
• impactos nas rotinas de trabalho,
• alocação de mão de obra,
• treinamento de usuários;
se misturam com problemas de: • escolha de ferramentas de apoio ao desenvolvimento de software,
• problemas de treinamento de pessoal técnico,
• acompanhamento de projetos de software.
O tratamento desses problemas,
muitas vezes sob uma mesma gerência, sem a necessária diferenciação, acarreta
distorções difíceis de serem detectadas, e de
impactos futuros danosos à organização.
Fundamentalmente, deve-se entender que o âmago da questão do
desenvolvimento e operação de sistemas computacionais de apoio a
organizações está na complexidade de tal tarefa. A década de
60 e princípio da década de 70 mostraram a inviabilidade da idéia
do sistema de informação global para toda uma organização. A
despeito dos grandes avanços tecnológicos, várias organizações passaram pela
desagradável experiência de terem altíssimos
gastos em processamento de dados e, contrariamente ao esperado, terem
acumulados grandes insucessos na implantação de ambiciosos Sistemas
de Informação, os quais englobariam toda a organização.
Um Sistema de Informação não é como muitos acreditavam e
infelizmente, alguns ainda acreditam, um sistema puramente técnico. A
visão tecnicista, oriunda principalmente do enfoque racional
tecnológico da maioria dos gerentes responsáveis pela função de
processamento de dados, detecta um sistema de informação como
meramente uma obra de engenharia. Nada mais longe da realidade. Um
sistema de informação é um sistema onde aspectos técnicos
são de fundamental importância, mas para que o sistema tenha
sucesso deve ser socialmente aceito pela
organização onde ele irá atuar. Tem-se que os aspectos sociais
relacionados ao desenvolvimento, implantação e operação de um
Sistema de Informação são na verdade os fatores que ditarão o
sucesso desse sistema.
Nos primeiros livros de Análise de Sistemas, era comum encontrar uma
lista de qualidades desejadas para um profissional nesta área.
Qualquer análise mais crítica dessas listas, claramente apontaria o
aspecto cômico desses requisitos, pela própria impossibilidade de se
encontrar pessoas que atendessem a todos aqueles itens. Normalmente o
que ocorria é que realmente as pessoas que se realçavam no
desempenho da tarefa eram indivíduos fora da regra geral. Exigir ao
mesmo tempo domínio de psicologia, administração, alta capacidade
de abstração, aliada ao correto domínio da tecnologia de
computação é claramente uma utopia.
Como enfrentar então, todos esses problemas?
Nossa proposta longe de
ser inovadora ou mágica, é apenas esclarecedora e pretende
possibilitar aos gerentes ligados a informática lidar
com aspectos de detalhe (as árvores), sem que no entanto percam a
visão do todo (isto é, da floresta). Essa proposta, ao contrário
de propor modelos teóricos ou fórmulas mágicas, centra-se num ponto
que consideramos fundamental, isto é, o aspecto gerencial. Antes de
apresentarmos nossa proposta, abordaremos a seguir alguns pontos que
julgamos fundamentais. Aspectos Fundamentais
Para que possamos melhor esclarecer nossa proposta é necessário que se
faça uma breve análise de quatro aspectos que julgamos
fundamentais para o entendimento e embasamento de nossa proposição.
O primeiro diz respeito à formação dos profissionais que atuam na
área de processamento de dados. O segundo aspecto refere-se ao
meio em que atuam esses profissionais. O terceiro aspecto é o
relacionado com as tecnologias de apóio aos Sistemas de Informação.
O último aspecto diz respeito aos modelos e metodologias usados
para o tratamento de Sistemas de Informação e software.
A Educação dos Profissionais de Informática
A cultura de
processamento de dados que hoje é presente na maioria das organizações
decorre principalmente da formação
dos primeiros profissionais na área de computação. Esta formação, em sua
maioria das vezes, foi oferecida pelas companhias
fornecedoras de equipamentos e, portanto, bastante fragmentada. Com o
surgimento dos cursos universitários o perfil do profissional de
informática sofreu mudanças. Estas mudanças se por um lado
modificam a cultura da organização quanto ao uso de sistemas de
computação, muitas vezes geram problemas de comunicação entre
profissionais mais novos e profissionais mais antigos, que geralmente
desempenham posições gerenciais.
A situação atual, em termos de formação de mão de obra
especializada, indica claramente a
existência de dois tipos de cursos de formação
universitária1
:
• cursos que dão ênfase a uma formação generalista (orientados ao mercado),
e
• cursos que dão ênfase a uma formação em ciência da computação.
Os cursos de formação orientada ao mercado são, na sua grande
maioria,
oriundos da orientação dada pela antiga CAPRE, quando do
planejamento da formação de mão de obra em suporte à política
nacional de informática. Como conseqüência, esses cursos, mesmo a
nível universitário, produzem um profissional com mais conhecimento
no uso de tecnologias do que com conhecimento para a produção
dessas tecnologias. Outro aspecto que caracteriza esses cursos é o
fato de que muitos dos docentes são profissionais da área de
informática e são professores de tempo parcial. Para
amenizar estes fatores há o fato de que alguns professores desses
cursos já contam com o mestrado em informática ou ciência da
computação. O resultado, na maioria das vezes, é que nas melhores
instituições de ensino, o profissional formado por esses cursos é
exposto, além do suporte básico de educação matemática, à
noções de administração, pesquisa operacional, direito, além
1
 Não trataremos aqui, dos cursos paralelos que na sua maioria, dedicam-se a
treinamento em linguagens de programação. das matérias afins à computação. Neste campo,
nota-se que, com o correr do tempo, cadeiras de conceitos vêm
substituindo cadeiras de apresentação de ferramentas.
Os cursos de formação em ciência da computação procuram
seguir uma orientação acadêmica em que prevalece um estudo
teórico da computação. Os professores desses cursos são
de tempo contínuo e pesquisadores, sendo que a maioria tem o nível de
doutorado. O profissional
formado por estes cursos está mais apto a lidar com
aspectos conceituais da ciência da computação, mas, em contra
partida, tem menor conhecimento de ferramentas específicas e quase
nenhuma noção referente ao uso de sistemas computacionais para o
apóio às atividades de uma organização.
Sob o aspecto de Sistemas de Informação, apenas os cursos
generalistas têm capacidade de produzir profissionais com formação condizente
com as necessidades de trabalho nesta área. Estes
cursos oferecem introdução à administração, à organização e
métodos, e a aspectos relacionados com a tomada de decisão e a
gerência, e em alguns poucos casos, a aspectos sociais relacionados
sistemas de informação. Por
outro lado os cursos generalistas não colocam a ênfase devida nos
aspectos relacionados as atividades de Engenharia de Software
``downstream'', isto é testes, estruturas de dados, análise de
algoritmos, e verificação de programas. Os cursos de ciência
da computação na grande maioria não se preocupam com aspectos
relacionados a Sistemas de Informação.
Sob o aspecto de Engenharia de Software, os cursos generalistas não
encaram a disciplina sob o aspecto de conceitos, mas meramente sob o
aspecto de ferramentas voltadas principalmente para as atividades de
Engenharia de Software ``upstream''. Os cursos de ciência da
computação, dependendo do interesse dos professores, dão, em maior
ou menor grau, atenção a Engenharia de Software como uma
disciplina. Nos casos em que isso não ocorre, os vários cursos do
``curriculum'' cobrirão as partes relacionadas às chamadas atividades
``downstream''.
Analisando os cursos de graduação em Administração de Empresas
de nosso
conhecimento verificamos que Sistemas de Informação raramente tem
uma abordagem suficiente para que profissionais desta área sejam
devidamente capacitados a desenvolverem tarefas relativas a
área. Na maioria das vezes, um curso com o título de
Sistemas de Informação, fornece uma idéia geral sobre o tema.
Em função desse breve resumo verificamos que não dispomos de
cursos universitários que tratem a contento dos aspectos
relacionados com Sistemas de Informação e Engenharia de Software
concomitantemente. Os cursos generalistas dão mais ênfase a alguns
aspectos relacionados a Sistemas de Informação, enquanto
cursos de ciência da computação cobrem partes da Engenharia
de Software.
A Função da Informática no Contexto Organizacional O meio em que estes profissionais de computação, quer sejam eles de formação
generalista ou de ciência da
computação, atuam é um meio social. Este meio social é
formado por um conjunto de atores desenvolvendo papéis
diferenciados e diferentemente motivados em torno de uma organização, que apesar
de ter objetivos gerais definidos tem vários
conflitos internos. Essa observação é importante porque procura
mostrar que um sistema de informação, não é um sistema puramente
técnico.
Sistemas computacionais de apoio a organizações podem tanto servir
de apoio as atividades fins de uma empresa como às atividades meios. Os
sistemas de maior complexidade são aqueles que além de
operacionalizarem essas atividades, também fornecem apoio gerencial.
Portanto estes sistemas computacionais são subsistemas de um sistema
maior que envolve pessoas, grupos organizados formalmente ou
informalmente, procedimentos, políticas, máquinas e meios de comunicação. O
entendimento de que sistemas computacionais de apoio à
organização são elementos de um conjunto maior
constantemente afetados pelas mudanças nesse meio é de fundamental
importância para o perfeito ententimento da diferença entre
Sistemas de Informação e Engenharia de Software.
Em particular estamos interessados em abordar sistemas computacionais de
apoio a atividades meio de uma organização que também forneçam
apoio gerencial. Estes sistemas computacionais são parte do que
chamamos Sistemas de Informação. Portanto estes sistemas
devem tratar, entre outros, de aspectos ligados à própria organização,
suas
necessidades, sua organização , atores envolvidos, fluxo de
informações, cultura organizacional, satisfação no trabalho,
padronização, métodos e procedimentos, infra-estrutura. Uma
importante observação é que Sistemas de Informação são
sistemas abertos. Sistemas de Informação são sistemas abertos,
porque atuam espelhando uma organização que é um sistema aberto,
isto é, é afetado por mudanças no mundo externo. Essas mudanças nem sempre
estão previstas.
Portanto, a função da informática, na grande maioria das empresas,
lida com duas partes distintas. Uma é a referente às
arquiteturas de Sistemas de Informação, e outra referente às
arquiteturas de sistemas computacionais de apoio a Sistemas de Informação.
Nessas sobressaem as arquiteturas de software de apoio.
Não discutiremos aqui a propriedade dessa responsabilidade.
Assumiremos que ambas as arquiteturas são de responsabilidade da função
informática.
Assim sendo, a
função da informática numa organização passa a ter uma
amplitude muito maior envolvendo não só aspectos técnicos e
organizacionais, como aspectos políticos no que se refere a
decisão sobre emprego de tecnologias à serviço de Sistemas de
Informação.
Tecnologias de Apóio Num sistema de informação, apesar de preponderantes, não são só
as tecnologias computacionais (hardware \(+\) software) que estão em
ação. Tecnologias relacionadas à comunicação, transporte, e
automação são também fatores importantes no desenvolvimento,
implantação e operação de um sistema de informação.
Certamente, também são levadas em conta tecnologias relacionadas à
própria administração, através de padrões e regras
organizacionais.
O aspecto tecnológico não só é de grande importância, porque
através do seu correto uso pode-se obter ganhos de produtividade, mas
apresenta um aspecto muito importante e muitas vezes esquecido que é a
pressão do ``marketing''. As empresas fornecedoras de tecnologia,
estão sempre desempenhando o seu papel de vender o que há de mais
moderno, com o objetivo de tornar o cliente mais satisfeito e mais dependente.
O ``glamour'' do novo é explorado de forma eficaz e eficiente pelos
detentores de tecnologia de uma forma asfixiante sobre o mercado
consumidor. O principal agente que puxa o uso do novo é sempre um
dos atores, ou um grupo de atores numa organização que por diversos
motivos, fazem constante pressão para que a organização adquira
uma nova peça do aparato tecnológico. A grande maioria
desse atores é bem intencionada, mas nem sempre é totalmente
consciente, e algumas poucas vezes tem outros interesses.
Sistemas de Informação são hoje um dos mercados mais promissores
para novas tecnologias computacionais, de comunicação e de
organização. Existem sempre novos lançamentos e
sempre novos atrativos neste ou naquele produto. As decisões sobre
escolha da tecnologia tornam-se cada vez mais complexas e consomem grande
soma de tempo e de recursos.
A ânsia pelo novo, aliado ao fato de que as disciplinas de Engenharia de
Software e a própria disciplina de Sistemas de Informação ainda
são muito novas, faz com que, os profissionais da área estejam
sempre com o temor de que seus conhecimentos estejam sendo
ultrapassados. O massacre do marketing nos dias de hoje deixa de
ser meramente das fornecedoras de hardware, mas passam cada vez mais
a terem os fornecedores de software (programas \(+\) métodos \(+\)
técnicas) como fontes de grande pressão.
Modelos: Semelhanças e Confusões
Sob o aspecto técnico um dos maiores problemas encontrados na área
de informática é o que se refere a modelos e metodologias
associadas.
Modelar a realidade é uma tarefa árdua e filosoficamente discutida,
isto é, até que ponto modelos da realidade conseguem ser corretos e
completos? Em Sistemas de Informação o aspecto de validação
do modelo, isto é se ele é correto e completo, é uma tarefa
empírica de extrema complexidade, principalmente por envolver aspectos
sociais onde fatores exógenos são preponderantes. O importante dessa
observação é que em Sistemas de Informação o fato de
lidarmos com pessoas e entidades abstratas dificulta sobremaneira a
tarefa de modelar. Obviamente estas dificuldades são repassadas ao
software. Conforme mencionamos anteriormente, podemos identificar
a existência de duas
arquiteturas: a arquitetura de Sistemas de Informação e a
arquitetura de sistemas computacionais2
 }.
Ambas as áreas
utilizam modelos para tornar compreensível suas
arquiteturas. O fator diferencial no que diz respeito à informática é
que essas arquiteturas não são necessariamente constituídas de aspectos
físicos, pelo contrário.
A ênfase em duas arquiteturas, separando Sistemas de Informação
do Software é importante como vimos anteriormente porque são áreas
diferentes apesar de complementares. A grande diferença é que
um sistema de informação não é somente o tratamento e
processamento de dados e informações.
Tem ele uma completa integração com a organização de que se
ocupa e que vai
além dos fluxos de informação. Em vista disso um sistema de
informação tem, em sua arquitetura, aspectos não diretamente
ligados a processos manipuláveis por um sistema de computação.
Vale notar que, um software de apoio a um sistema de informação tem
aspectos técnicos que só longinquamente tem semelhança com a
organização. Ele se mantém em estreita ligação
com o sistema computacional, além de tratar, é obvio, somente de
aspectos computáveis.
Em função disso, notamos que Sistemas de Informação e software
têm arquiteturas distintas. De maneira semelhante, mas não tão
clara, uma casa tem uma arquitetura diferente de uma rede
elétrica. O ponto que queremos ressaltar é o de que modelos de uma
arquitetura não são necessariamente próprios para a outra.
Portanto existem modelos para Sistemas de
Informação, que ajudam a visualizar sua arquitetura e modelos para
software que tornam sua arquitetura concreta.
A literatura, que não faz uma distinção clara sobre tal
realidade, muitas vezes confunde o leitor ao apresentar técnicas e
ferramentas orientadas a uma das arquiteturas como se fosse aplicada, de
maneira igual,
a ambas. Por exemplo, muitas vezes encontro, tanto na
literatura como
na prática, referencia a Análise Estruturada como uma estratégia
de modelagem para
Sistemas de Informação. Nada mais equivocado. Da mesma forma que o
modelo produzido pela Análise Estruturada não se aplica a Sistemas de
Informação3
, o modelo produzido por ETHICS
não se aplica a
2
A arquitetura de software esta incluída na arquitetura de sistemas computacionais
3
 é obvio que há uma aplicação indireta,
ou seja o modelo produzido da análise estruturada com seus métodos,
técnicas e ferramentas associados servem para organizar os aspectos de tratamento
dos dados/informações. software. Ou seja técnicas e ferramentas são condicionadas a
estratégia de modelagem, portanto
arquiteturas diferentes requerem técnicas e ferramentas diferenciadas.
Procuramos ressaltar as diferenças entre essas arquiteturas, mas as
semelhanças são muitas. Tal semelhança produz uma
confusão de terminologia
e de conceitos que muitas vezes impede o profissional de separar o joio do
trigo. A principal semelhança é que ambas as arquiteturas lidam
basicamente com informações, e sua manipulação. Ambas as
arquiteturas tratam com abstrações de abstrações, isto é
procuram representar
objetos não físicos. é importante também, salientar que o
software é o produto que suportará o sistema de informação,
quer dizer: é a
parte mais concreta do sistema o que leva naturalmente
a percepção de uma identidade.
A seguir procuraremos delinear superficialmente uma proposta a nível
gerencial de como enfrentar esses problemas e de como tirar partido
dessas observações. Esta proposta tem por objetivo
minorar os problemas relacionados com a implantação e
operação de Sistemas de Informação.
O Elo Gerencial
Conforme deixamos claro até aqui, entendemos que Sistemas de Informação e
Engenharia de Software são disciplinas distintas, mas de
grande interfaceamento. Observamos também que vários aspectos
suportam a idéia de que o gerenciamento dessas duas disciplinas é
uma tarefa de grande complexidade, aumentada pelo que referimos como o
eixo tecnológico.
No nosso entender o perfil dos profissionais de Sistemas de Informação e de
Engenharia de Software necessariamente e por consequência
não deve ser igual, portanto, o modo de sua
gerência também deve ser distinta. O interfaceamento dos trabalhos
desse grupo de profissionais deve ser realizado, sem dúvida nas
tarefas relacionadas as atividades ``upstream'' da engenharia de
software, isto é as atividades iniciais de definição e
especificação. Assim como a engenharia de sistemas nos produtos
que requerem software dedicado, Sistemas de Informação terá o seu
próprio processo (com atividades ``up'' e ``downstream''') de
desenvolvimento.
O importante é entender que cabe aos profissionais com formação
orientada para Sistemas de Informação, atuarem na área própria, onde
os
contatos com a organização e seu complexo social são frequentes.
Não devemos entender que os especialistas de Sistemas de Informação substituam
os usuários no contato com os engenheiros de
software, não. Os usuários e os engenheiros de software têm sua
interação quando necessário, assim como as tem com os
especialistas em Sistemas de Informação. A divisão de tarefas
apenas permite que os engenheiros de software prestem maior atenção
a aspectos de engenharia e que os especialistas em Sistemas de Informação
dediquem mais tempo e mais atenção ao entendimento dos aspectos organizacionais de um sistema bem como seus impactos sociais.
O maior problema desse enfoque consiste justamente em separar a
parte em que termina o trabalho de um especialista
e a que começa o trabalho do outro.
Obviamente, não propomos uma simples divisão do tradicional ciclo de
vida. Os especialistas de Sistemas de Informação podem, sem
problemas,
serem os responsáveis pelo desenvolvimento completo de um sistema de
informação inclusive de seu aspecto computacional, como no caso de
um sistema em primeira versão. Por outro lado os engenheiros de
software podem perfeitamente desenvolver um protótipo de software
com iteração direta com os usuários, como, por exemplo, na
implantação de um sistema especialista. O tipo de atuação
desses dois grupos de especialistas vai ser determinado principalmente
pelos gerentes responsáveis pela função informática.
Os Gerentes
Nossa proposição baseia-se no triângulo gerencial da função
da informática. Neste
triângulo temos em cada vértice um gerente. Os gerentes são: o
gerente de Engenharia de Software, o gerente de Sistemas de Informação e o
gerente de Tecnologia. Com base nestes três tipos de gerentes
uma organização deve se ajustar da maneira que mais lhe convier.
Essas três
gerencias não são apenas de nível tático, mas também de
nível estratégico, ou seja os gerentes dessas três áreas tem
participação nas decisões de longo prazo.
Dependendo do tamanho da organização um gerente pode
desempenhar papéis de cunho tático como papéis de cunho
estratégico. Nas organizações maiores, certamente haverá a
necessidade de diferentes atores para os papéis de nível tático e
estratégico. Nossa proposta não detalha estes aspectos de
subdivisão dessas gerências. Trataremos aqui de conceitos gerais e
usaremos a hipótese de que há apenas três gerentes.
Podem haver quatro tipos de formação dessas gerências (Figura 1, 2,
3 e 4).
Três tipos
são os que escolhem um dos vértices como a principal gerência,
isto é:
• 1) o gerente de maior poder hierárquico é o gerente de Tecnologia,
• 2) o gerente de maior poder hierárquico é o gerente de Sistemas de
Informação,
• 3) o gerente de maior poder hierárquico é o gerente de Engenharia de
Software, e
• 4) ao invés de um triângulo, temos um anel, ou seja a gerência é feita em
regime de comitê.
O caso ideal é função da
organização e do perfil dos gerentes.
Ao gerente de Tecnologia cabe a seleção de tecnologias
informáticas. Este órgão serve não só como o
negociador de tecnologia com o mundo exterior, mas também como um filtro e
buffer para aliviar as pressões do ``marketing''
sobre os atores ligados as funções de informática.
Longe de ter como objetivo a decisão-chave de poder
usar ou não poder usar, esta gerência deve ser bastante flexível e ter
uma visão muito próxima da própria visão do negócio. Cabe a esta
gerência a tarefa de transferência de tecnologia. O gerente de
Tecnologia necessita uma sólida formação universitária,
preferencialmente à nível de pós-graduação e manter-se
constantemente atualizado com as tendências das tecnologias do ramo.
Uma característica fundamental desse profissional é a capacidade de
análise criteriosa das tecnologias envolvidas, o que certamente
exige
não só uma pessoa de extrema capacidade intelectual e técnica,
como um profissional com
experiência considerável na seleção de tecnologias através de
avaliações, uso de consultores, negociação com fornecedores,
entre outras. Importante frisar, que a este perfil deve-se somar uma perfeita
adequação à própria organização, entendendo seus desejos e
suas áreas de competência.
Ao gerente de Sistemas de Informação, cabe a dura tarefa de
gerenciar as interações dos especialistas em Sistemas de Informação com os
outros atores organizacionais. Cabe a esta gerência a
responsabilidade maior na arquitetura de Sistemas de Informação,
bem como de sua correta operacionalidade. Este gerente deve ter formação
universitária e um curso de pós-graduação em ``MIS''.
Além da alta capacitação técnica deve ser um ator com
facilidade no trato com pessoas e com políticas organizacionais.
Sobre este aspecto espera-se que este profissional seja um facilitador,
e não um manipulador político. Certamente tornar-se necessário
que tenha
experiência anterior no projeto e na implementação de Sistemas de
Informação. Sobre este aspecto deve-se levar em consideração
o sucesso, isto é a aceitação pela organização (conjunto de
usuários) dos sistemas implantados. Este gerente
é certamente aquele que desempenha papel chave no
comitê de informática da organização.
Cabe a gerência de Engenharia de Software todo o suporte no
desenvolvimento e manutenção do software constante do sistema
computacional de apoio aos Sistemas de Informação da organização. A
formação desse profissional deve ser preferivelmente em ciência
da computação e com pós-graduação em Engenharia de Software.
Aliada ao conhecimento técnico e ao perfil gerencial, este profissional
deve ter tido uma considerável experiência na definição,
projeto e implementação de software. Preferivelmente este
profissional deve ter um bom conhecimento da plataforma de software em
uso na sua organização, e, em especial, um bom domínio das
técnicas de desenho de software.
Vale ressaltar que todos esses gerentes devem ter um bom conhecimento de
banco de dados. Na maioria das vezes as negociações entre os gerentes de Sistemas de Informação e Engenharia de Software
acontecerá no cenário de banco de dados.
Comunicação entre Gerentes, o Ponto Fundamental
O Elo Gerencial busca, no caminho da eficácia, a efetiva comunicação e
o constante diálogo entre os gerentes acima referidos. Desse
intercâmbio resultará o sucesso da
empresa na implantação de Sistemas de Informação eficazes e
eficientes.
A organização da função informática segundo a
nossa proposta deve conter um Sistema de Produção e Manutenção de
Software (SPMS), um Sistema de Produção e Manutenção de
Sistemas de Informação (SPMSI) e um Sistema de Avaliação
Tecnológica (SAT).
A existência de diferentes sistemas associados a função
informática, demonstra que um interfaceamento entre esses sistemas
deve existir. Cabe aos gerentes em primeira mão, quando da organização desses
sistemas, definir claramente quais as interfaces existentes
entre eles. Essas interfaces entre sistemas independentes, mas
relacionados, é base para o planejamento, coordenação e controle
da informática na organização. Portanto o principal ponto é
que os gerentes dos três sistemas trabalhem com o espírito de time,
apesar ,é claro, dos possíveis conflitos de opinião. O modelo de
interação (ver Figuras 1,2,3 e 4) implicará num protocolo
diferente de negociação. O princípio de não interferência
deve dominar esses sistemas, de modo que seu funcionamento evite
distorções.
Em função desse modelo gerencial o comitê de informática ganha
uma característica especial, isto é a função informática
passa a ser representada por três sistemas que conjuntamente com os
usuários traçam políticas e prioridades. A ênfase no
conceito de time entre os três sistemas procura minorar conflitos
internos e evitar que estes conflitos se
configurem no
comitê. Por outro lado a representação de três setores,
aparentemente únicos, diante da comunidade usuária facilita a
compreensão dos problemas relacionados a informatização de uma
organização.
A organização dos sistemas acima mencionados e sua população,
com técnicos de competência, além de fundamental é tarefa
difícil, visto as características de formação de pessoal. A
organização deve procurar estruturar seu pessoal levando em conta
as características de cada sistema e projetar um programa de
treinamento que facilite o enquadramento do pessoal, bem como dissemine
os métodos, técnicas e ferramentas associadas a cada um desses
sistemas, inclusive aqueles que tratam do interfaceamento desses
sistemas. Neste quadro de adequação de pessoal, o sistema de
avaliação tecnológica tem papel fundamental, visto que tecnologias
selecionadas requerem um processo de transferência tecnológica não
necessariamente triviais.
A seguir concluímos fazendo um breve resumo de nossa proposta. Conclusão
Nosso objetivo foi o de questionar o tratamento uniforme
que normalmente é dado a duas áreas muito correlatas, mas
distintas. A herança de processamento de dados muito confundiu
e ainda confunde profissionais, tanto na prática como na academia.
O texto procurou ressaltar as diferenças entre Sistemas de
Informação e Engenharia de Software com o objetivo principal de
mostrar que profissionais qualificados para essas funções devem ter
formação diferenciada.
Mostramos também que, dado as constantes
mudanças nas tecnologias de apoio à informação, é importante
fatorar este aspecto no contexto da informática dentro de uma
organização. é importante ressaltar que mais estudos sobre esse
tema são necessários. Nosso objetivo principal é o da tomada de
posição para posterior discussão dentro da comunidade.
A proposta organizacional por nós delineada é intencionalmente
superficial. Nosso maior objetivo é o de elicitar aspectos básicos
relacionados a diferença entre Sistemas de Informação e software
de suporte a esses sistemas.
Usamos o termo arquitetura para mostrar
que os conhecimentos necessários para uma arquitetura de sistema de
informação são distintos daqueles para uma arquitetura de
software. Em razão disso acreditamos ter demonstrado a necessidade de
distinção entre Sistemas de Informação e Engenharia de
Software. Propostas mais concretas certamente dependerão de cada
organização em particular, visto que vários são os fatores que
dependem exclusivamente do contexto.
O quadro apresentado
revela à sua vez e com base em nossa realidade prática
um sério problema de formação de pessoal, ao mesmo tempo
que mostra que diferentes backgrounds podem existir numa mesma
organização. Uma maneira de notarmos esta falta de uniformização e debilidade
na formação de
profissionais dessas duas áreas é
aplicarmos duas questões a profissionais recém formados. Uma das
questões seria:
• Quais os níveis de decisão existentes numa empresa?
Outra questão poderia ser esta:
• O que significa escopo de controle em desenho de software?
Ficaríamos surpresos ao constatar que poucos acertariam. No entanto,
estas questões são básicas tanto em Sistemas de Informação,
como em Engenharia de Software.
A Engenharia de Software vem se organizando como disciplina principalmente na área acadêmica. Um grupo da Sociedade
Brasileira de Computação promove anualmente um simpósio sobre
o tema. O mesmo não ocorre com Sistemas de Informação.
Acreditamos que seria extremamente benéfico para as organizações
usuárias de informática que através da SUCESU, em associação
com universidades,
fosse criado um grupo
de interesse em Sistemas de Informação. Este grupo, semelhante ao
grupo de Engenharia de Software procuraria fomentar o interesse
específico na área. Fortalecendo os dois campos como áreas
distintas, aumentaremos a massa crítica de especialistas que se faz
necessária para o desenvolvimento da tecnologia de informação que
hábil a tornar
as empresas nacionais mais competitivas.
Foram suprimidas as figuras (1) Dominação da Tecnologia, 2) Dominação de
Sistemas de Informação, 3)Dominação da Engenharia de Software e 4) Regime de
Comitê)

Share:

0 comentários

POPULAR POSTS